quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sonhos e Elaboração Onírica

     
SONHOS E ELABORAÇÃO ONÍRICA
(Sigmund Freud)


        


          
Ouvindo as associações livres de seus pacientes, assim como considerando sua própria auto-análise, Freud começou a investigar os relatos e lembranças dos sonhos. Ele acreditava que os sonhos representam uma satisfação disfarçada de desejos e anseios reprimidos e que a história onírica é muito mais significativa e complexa do que pode parecer. Conta-se que numa noite de quarta feira no dia 24 de julho de 1895, sentado à uma mesa do lado nordeste do terraço do restaurante Bellevue, em Viena, Freud percebeu que a essência do sonho é a realização de desejos. Seguindo a noção de que o gênio sempre se lisonjeia datando suas próprias inspirações, Freud gracejou dizendo que numa placa deveria ser construida naquele lugar: “Aqui foi revelado ao Dr. Sigmund Freud, no dia 24 de julho de 1895, o segredo dos sonhos.”
E assim, escreveu um livro, sendo este considerado como o seu trabalho mais importante: A interpretação de sonhos (1900). Nele, Freud descreve como os sonhos ajudam a psique a se proteger e satisfazer-se. Obstáculos incessantes e desejos não mitigados preenchem o cotidiano. Freud indica que do ponto de vista biológico, a função dos sonhos é permitir que o sono não seja perturbado. Sonhar é uma forma de canalizar desejos não realizados através da consciência sem despertar o corpo. “É uma estrutura de pensamento, que foi construída durante o dia e não realizada, que apega-se firmemente mesmo durante a noite à energia que tinha assumido. E esse resíduo diurno é transformado num sonho pela elaboração onírica e, dessa forma, torna-se inofensivo ao sono”. Em simples palavras, isso seria como que absorvêssemos tudo o que nos acontece (seja psicologicamente ou biologicamente), e se houver alguma coisa que não foi realizada ou concreta é transformada, pela elaboração onírica, em sonho.
O sonho manifesto é o resultado de um processo denominado elaboração onírica que consiste na passagem do conteúdo latente, para uma representação através do nosso sonho. Sendo que, o conteúdo manifesto é a história contada quando nos recordamos dos eventos ocorridos no sonho. Porém, a verdadeira significação do sonho se encontra no conteúdo latente, que constitui o seu significado oculto e simbólico.

Freud acreditava que os sonhos representam uma satisfação disfarçada de desejos e anseios reprimidos. Dessa forma, quase todo sonho pode ser compreendido como a realização de um desejo. O sonho é um caminho alternativo para satisfazer os desejos do id. Quando em estado de vigília, o ego esforça-se para proporcionar prazer e reduzir o desprazer. Durante o sono, necessidades não satisfeitas são escolhidas, combinadas e arranjadas de modo que as seqüências do sonho permitam uma satisfação adicional ou redução de tensão. Para o id, não é importante o fato da satisfação ocorrer na realidade físico-sensorial ou na imaginada realidade interna do sonho. Em ambos os casos, energias acumuladas são descarregadas.
Mas muitos sonhos parecem não ser satisfatórios; alguns são deprimentes, alguns perturbadores, outros assustadores e muitos simplesmente obscuros. Muitos sonhos parecem reviver eventos passados, enquanto uns poucos parecem ser proféticos.
Através da análise detalhada de dezenas de sonhos, ligando-os a conhecimentos da vida do sonhador. Freud foi capaz de mostrar que a elaboração onírica é um processo de seleção, distorção, transformação, inversão, deslocamento e outras modificações em um desejo original. Essas mudanças tornam tal desejo aceitável ao ego, mesmo que o desejo não-modificado seja totalmente inaceitável pela consciência em estado de vigília. Freud torna-nos cientes da permissividade dos sonhos, onde toleramos ações que estão claramente além das restrições morais de nossa vida de vigília. Em sonhos, matamos, mutilamos ou destruímos inimigos, parentes ou amigos; temos relações sexuais, realizamos nossas perversões e tomamos como parceiros sexuais uma vasta gama de pessoas.

Para interpretar o significado simbólico dos eventos que o paciente relata no sonho, o terapeuta deve partir do conteúdo manifesto para o latente. A análise dos sonhos é uma tarefa complexa, porém existem símbolos (e/ou significados) comuns a todos nós. Freud sugeriu por exemplo, que:
sonhos com jardins, varandas e portas representam o corpo feminino;
sonhos com flechas de igreja, velas e serpentes, representam os órgãos genitais masculinos;
sonhos sobre quedas representam a entrega a desejos eróticos;
sonhos com vôo representam um desejo de realização sexual.
No entanto, Freud advertiu que, apesar da universalidade desses símbolos, a interpretação de um sonho particular exige o conhecimento dos conflitos específicos do paciente.
Freud acreditava que a interpretação dos sonhos revelava que todos os sonhos têm um conteúdo sexual ou provêm de forças motoras sexuais, porém ele não sustentou essa afirmação.



Freud também escreveu que nem todos os sonhos têm como causa conflitos emocionais. E ele nos leva a entender a Fonte dos Sonhos. Sendo eles:
Excitação Sensoriais Externas (objetivas): estímulos externos que atingiriam os órgãos durante o sono e provocariam os sonhos, Ex.: trovoada, cantar de um galo, etc.; sensações de frio, calor, etc. Ex.: vontade de urinar, partes do corpo descobertas, etc.;
Excitações sensoriais internas (subjetivas): seriam os estímulos que agem sobre os órgãos dos sentidos a partir do interno do corpo, como acontece com as alucinações hipnagógicas, que são semelhantes às imagens oníricas, ou fenômenos visuais imaginativos;
Estímulos somáticos internos (orgânicos): durante o sono existiria uma “maior consciência sensorial do corpo”, uma percepção aumentada os órgãos do corpo. Isto seria uma das fontes do sonho. Ex.: os doentes de coração e pulmão têm sonhos de angústia; os tuberculosos têm sonhos de sufocamento; a excitação sexual provoca sonhos de conteúdo erótico;
Fontes de estimulação puramente psíquicas: os interesses, as preocupações da vida continuariam durante o sono, provocando sonhos, mas os produtos da atividade onírica perderiam todas as qualidades psíquicas, reduzindo-se a representações reproduzidas mecanicamente, reguladas somente pelas leias associativas.

No contexto do sonho, quatro são as atividades que podem ser verificados, sendo eles também considerados como o Trabalho dos Sonhos:
Condensação: refere-se à atividade que impede a nítida correspondência entre o conteúdo manifesto e o conteúdo latente. Pelo fato de o conteúdo latente ser muito maior do que o conteúdo manifesto, o sonho pode representar inúmeros motivos ou desejos;
Deslocamento: relaciona-se com o disfarce que o sonho realiza. Assim, a acentuação, o interesse ou a intensidade de uma representação torna-se susceptível de se deslocar para outras, ligadas a elas por uma cadeia associativa;
Processo de representação: consiste na transformação dos pensamentos oníricos ou conteúdo latente para imagens do conteúdo manifesto. Por essa atividade, um sonho aproxima duas manifestações de desejos diferentes de maneira imagética. Para o indivíduo que sonha, essas imagens aparecem de forma confusa, e, ao relatar o sonho, ele não sabe se de fato é essa ou aquela imagem que apareceu;
Elaboração secundária: é atividade que ordena, dá lógica e coerência ao conteúdo do sonho, de modo a apresentá-lo num todo aceitável e compreensível. Essa atividade escolhe, remodela e acrescenta algo ao conteúdo do sonho, sendo o efeito da censura.

Existem três características da memória nos sonhos, as quais são:
preferência por impressões recentes;
por aquelas indiferentes;
por lembranças infantis.


Porque nos esquecemos do sonho após acordar?
É fato proverbial que os sonhos se desvanecem pela manhã.  Com freqüência temos a impressão de termos lembrado apenas parcialmente de um sonho; podemos também observar como a lembrança de um sonho, nítida pela manhã, se dissipa, salvo por alguns fragmentos, no decorrer do dia; muitas vezes sabemos que sonhamos, sem saber o que sonhamos.
O que se aplica às imagens oníricas, acerca das causas que conduzem ao esquecimento, está relacionada aos seguintes fatos:
são esquecidas devido serem fracas demais, enquanto outras imagens mais fortes, adjacentes a ela, são recordadas. Contudo, o fator da intensidade, não é suficiente, por si só, para determinar se uma imagem onírica será lembrada. Porque muitas vezes nos esquecemos de imagens oníricas que sabemos terem sido muito nítidas, enquanto grande numero das que são obscuras e carentes de força sensorial situam-se entre as que são retidas na memória;
a maioria das imagens oníricas constitui experiências únicas, e por isso tendemos a esquecer facilmente a esquecer um fato que ocorra apenas uma vez e a reparar mais depressa naquilo que possa ser percebido rapidamente;
o mundo dos sentidos exerce pressão e se apossa imediatamente da atenção com uma força à qual muito poucas imagens oníricas conseguem resistir, ou seja, os sonhos cedem ante as impressões de um novo dia, da mesma forma que o brilho das estrelas cede à luz do sol;
as pessoas tem pouco interesse em seus sonhos, e isso traz um esquecimento com maior facilidade.




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